Cobalto, um imenso azul
Nuno José Ribeiro, Advogado e Pós-graduado em Direito de Energia07/12/2023
Começou por ser um material utilizado na arte. Hoje é matéria imprescendível à mobilidade elétrica. O que aufere um "tremendo" poder a quem controla os jazigos.
Poderia começar este artigo lembrando a magistral composição dos Irmãos Gershwin, “Rapsody in Blue” para lembrar as múltiplas aplicações do cobalto no que respeita às tecnologias e várias indústrias tais como o fabrico de veículos elétricos, telefones, computadores e outros que usamos todos os dias, o dia todo.
As aplicações possíveis para o cobalto incluem:
- Ligas metálicas: super-ligas usadas em pás de turbinas a gás, turbinas de aviões, ligas resistentes a corrosão, aços rápidos, carbetos e ferramentas de diamante.
- Ímanes do tipo (Alnico) e em cintas magnéticas
- Catálise do petróleo e indústria química.
- Revestimentos metálicos por eletrodeposição devido ao seu aspecto, dureza e resistência à corrosão.
- Secante para e vernizes.
- Revestimento base de esmaltes vitrificados.
- Pigmentos: cobalto preto e cobalto verde.
- Elétrodos de baterias elétricas.
- Cabos de aço de pneumáticos.
- O Co-60, radioisótopo usado como fonte de radiação gama em radioterapia, esterilização de alimentos (pasteurização fria) e radiografia industrial para o controle de qualidade de metais (detecção de fendas).
O cobalto é um metal que apresenta característica ferromagnética. Com uma temperatura de Curie de 1388 K (1114,85°C, 2038,73°F). Normalmente é encontrado junto com o níquel, e ambos fazem parte dos meteoritos de ferro. É um elemento químico essencial para os mamíferos em pequenas quantidades. O Co-60, um radio-isótopo, é um importante marcador e agente no tratamento do cancro.
O cobalto metálico é normalmente constituído de duas formas alotrópicas com estruturas cristalinas diferentes: hexagonal e cúbica centrada nas faces, sendo a temperatura de transição entre ambas de 722 K. Apresenta estados de oxidação baixos.
O cobalto tornou-se familiar nas nossas vidas, primeiro através da arte porque é ele que é o responsável por aquele característico tom de azul a que se chama azul real e que pode ser encontrado em peças de zonas e épocas tão variadas tais como Pompeia ou a China Imperial.
Durante o século XIX, entre 70 e 80% da produção mundial de cobalto era obtido na fábrica norueguesa Blaafarveværket cuja tradução para português é a romântica expressão Fábrica da Cor Azul que pertenceu ao industrial prussiano Jacob Benjamin Wegner e que curiosamente foi vice-cônsul de Portugal.
No começo do século XX há que destacar o trabalho do casal Curie na descoberta do potencial deste mineral e, já 1938, John Livingood e Glenn Seaborg descobriram o cobalto-60, sendo que Seaborg fez parte do Projecto Manhantan, que deu origem às primeiras bombas atómicas.
A primeira máquina de radioterapia, bomba de cobalto, foi construída no Canadá por uma equipa liderada por Ivan Smith e Roy Errington, utilizada num paciente em 1951.
Agora o cobalto está presente nas nossas vidas de uma forma tão importante quanto impreceptível nos modernos gadgets tecnológicos e veículos elétricos.
Em termos de proveniência geográfica, o cobalto encontra-se em vários continentes, tais como África, Ásia, Oceânia e Europa.
Já a cadeia de produção daquele minério coloca vários riscos de natureza política e económica porque é a China que a controla em grande parte, porque é dona das duas maiores empresas do ramo que, entre si, detém cerca de 14% da quota de mercado e 24% da produção.
Para se ter um termo de comparação, o maior produtor de cobalto do mundo, que é a República Democrática do Congo, representa apenas 3,5% da produção mundial.
De acordo com um estudo do site “Illuminem” e que poderá consultar no Who controls the world’s minerals needed for green energy? (illuminem.com), o facto de a China controlar grande parte dos chamados Elementos Raros da Terra, nos quais se inclui o cobalto, coloca riscos ferocíssimos para a defesa e para a soberania do Ocidente e por razões que são fáceis de entender.
Como diz o estudo Adnan Mazarei, do Peterson Institute for International Economics, a Guerra da Ucrânia pós a nu a dependência energética da Europa face tanto à Federação Russa como à China.
Com a diferença de que a primeira é mais facilmente resolúvel mediante o aumento da produção energética, mas a segunda é muito mais complicada porque, no limite, só se resolve com a utilização de aparelhos que dispensem a utilização de ERT's, o que, no estado actual do mercado e da tecnologia, não é sequer imaginável.
Sem embargo, não é só a Europa e a Guerra da Ucrânia que são relevantes porque também os EUA estão a ser afectados na perspectiva da soberania energética a propósito do conflito entre Israel e a Palestina, iniciado em Outubro de 2023.
O argumento que ele usa é muito curioso porque defende que os EUA e os seus aliados, estão muito mais seguros quando aqueles produzem mais petróleo e derivados porque a redução da produção americana dá mais força a petro-estados hostis ao Ocidente como a Rússia e o Irão.
Recorde-se que a política de Biden de reduzir a produção tem a ver com a necessidade de encontrar um equilíbrio entre os defensores do ambiente e o facto de que preços de combustíveis altos são meio caminho para perder a re-eleição presidencial.
No fundo, talvez seja verdadeira a lenda segundo a qual o cobalto, cujo nome vem do alemão do alemão kobalt ou kobold, significa espírito maligno ou demónio das minas.
O autor escreve ao abrigo do antigo acordo ortográfico.