Escassez de engenheiros ameaça futuro das grandes obras nacionais.
O relatório, apresentado ontem no Congresso do 30.º Aniversário sob o tema 'A Engenharia e o Futuro', identifica uma tendência global com impacto direto em Portugal: as empresas enfrentam escassez de talento, elevada rotatividade e uma necessidade urgente de novas competências para acompanhar a transformação digital. Segundo o estudo, 40% das competências nucleares vão mudar nos próximos cinco anos, obrigando à requalificação (upskilling e reskilling) de metade dos colaboradores.
Paralelamente, 43% dos trabalhadores admite mudar de empregador, o que agrava a rotatividade e compromete a retenção de talento.
A análise reforça ainda que os modelos de linguagem, como o GPT-4, poderão transformar até 40% das horas de trabalho, automatizando tarefas e exigindo novas competências. Ao mesmo tempo, a interação entre humanos e tecnologia vai criar 97 milhões de novos empregos, sobretudo em áreas digitais e tecnológicas. Ou seja, o futuro pertence a quem aposta na aprendizagem contínua. E investir em pessoas é investir no sucesso.
Neste contexto, e apesar de o país viver um momento de forte investimento público e privado, com grandes obras e projetos estruturais como o Novo Aeroporto de Lisboa, a Terceira Travessia do Tejo e a Linha de Alta Velocidade, Portugal arrisca perder a vantagem competitiva se não for capaz de formar, atrair e reter talento qualificado.
“Portugal vive um momento de viragem. Temos à nossa frente projetos que podem redefinir o nosso modelo de desenvolvimento, mas essa oportunidade só será concretizada se investirmos nas pessoas que os podem tornar realidade. A engenharia é o coração do progresso nacional e um motor de inovação e produtividade. O défice de competências e a falta de engenheiros podem comprometer o crescimento do país, pelo que é essencial alinhar o ensino, a política pública e a estratégia empresarial em torno do talento”, afirma António Martins da Costa, presidente da Proforum.
De acordo com o estudo, a maioria das empresas investe atualmente três vezes mais em tecnologia de Inteligência Artificial (IA) do que em pessoas. No entanto, o maior obstáculo à escala e ao crescimento não é tecnológico, mas humano. Por outro lado, acrescenta, as organizações que reinventam a forma como as pessoas trabalham com a IA são 90% mais eficazes na criação de impacto empresarial.
A formação em engenharia é, neste contexto, um ponto crítico. O estudo sublinha que dois terços dos jovens da geração Z se sentem mal preparados pelas universidades para o mundo do trabalho, revelando um desalinhamento entre a oferta formativa e as necessidades do mercado. As funções tradicionais da engenharia, muito centradas na análise e na monitorização de ativos, estão a ser substituídas por novas áreas de valor estratégico, como a manutenção preditiva, o planeamento e o domínio de ferramentas de IA.
Para responder a esta mudança, é essencial que as universidades integrem, de forma transversal, novas áreas do conhecimento, da robótica ao machine learning, e reforcem a ligação entre a formação académica e as necessidades reais da economia. A PROFORUM defende ainda uma ação coordenada entre o Governo, as instituições de ensino e o setor empresarial, de forma a garantir que Portugal dispõe do talento necessário para sustentar o seu desenvolvimento económico e tecnológico.
“É fundamental criar condições para atrair e reter talento. Precisamos de inspirar os jovens a escolher a engenharia e as ciências aplicadas como caminhos de futuro. Isto exige visão, cooperação e políticas que valorizem o capital humano”, conclui o presidente da Proforum.


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